terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O nascimento humano e o surgimento da doula

Hoje, quero falar um pouco sobre a evolução do nascimento humano e o surgimento da doula. Suas origens perdem-se na história da humanidade, e pode ser que tenha surgido no momento em que as dificuldades  do parto aumentaram. O parto provavelmente desafia os seres humanos há milhões de anos, porque, em função de termos nos tornado bípedes e eretos, houve um estreitamento dos ossos da pelve. E, nosso crânio desenvolveu-se ao longo do tempo. Assim, tivemos de realizar adaptações para que a espécie humana se perpetuasse e com isso as mulheres procuraram o apoio de outras mulheres para dar à luz seus filhos. 
Como afirmam as médicas-obstetras Karen R. Rosenberg e Wenda R. Trevathan em A evolução do parto humano na revista Scientific American, "Os humanos têm cabeças excepcionalmente grandes em relação ao tamanho de seus corpos. Quem já mergulhou mais profundamente no assunto também sabe que a abertura na pelve humana por meio da qual o bebê precisa passar tem seu tamanho limitado em função de nossa postura ereta. Mas só recentemente os antropólogos começaram a se dar conta de que as complexas torções e giros que os bebês humanos fazem enquanto percorrem o canal de nascimento vêm preocupando os humanos e seus ancestrais há, no mínimo, cem mil anos. Indícios de fósseis também sugerem que foi a anatomia, e não apenas a nossa natureza social, que levou as mães humanas - em contraste com nossas parentes primatas mais próximas e com quase todos os outros mamíferos - a pedir ajuda no parto. Na verdade, o hábito de procurar assistência talvez já existisse quando o mais antigo membro do gênero Homo apareceu, e possivelmente data de cinco milhões de anos atrás, quando nossos ancestrais começaram a andar eretos regularmente".
Em função dos giros que o bebê tem de realizar, para poder passar pelo canal vaginal, ele acada vindo ao mundo de costas para a mãe, diferente das mães primatas, que podem, elas mesmas amparar seus filhotes no momento do nascimento já havendo uma interação olho no olho.
"O formato do canal de nascimento do Australopithecus é oval achatado, com a maior dimensão de lado a lado, tanto na entrada quanto na saída. Esse formato parece requerer um padrão de parto diferente do  padrão dos macacos. A cabeça de um bebê humano não teria que girar dentro do canal, mas achamos que, para que os ombros passassem, o bebê talvez precisasse virá-la ao sair. Em outras palavras, se o bebê entrava no canal de nascimento com a cabeça virada para o lado do corpo da mãe, portanto com os ombros orientados numa linha que ia da barriga às costas da mãe, ele provavelmente teria que girar 90 graus ao longo do trajeto.  Essa simples rotação pode ter introduzido um tipo de dificuldade nos partos de Australopithecus que nenhuma outra espécie de primata até então enfrentara. Dependendo da direção para a qual os ombros do bebê girassem, sua cabeça poderia emergir virada para a frente ou para trás em relação à mãe. Como o canal de nascimento do Australopithecus é uma abertura simétrica de formato constante, o bebê poderia girar com a mesma facilidade tanto para um lado quanto para o outro, o que daria a ele uma chance de 50% de sair na posição mais fácil, virado para a frente da mãe. Se o bebê nascesse voltado para trás, a mãe Australopithecus - como as mães humanas modernas - poderia fazer bom uso de alguma ajuda".




Desse modo, foi-se criando a necessidade de uma ajuda, visto que nem sempre a própria mãe teria condições de amparar o prórpio filho. Além disso, provavelmente para nos adaptarmos às condições de nascimento, ao tamanho da pelve e  à nossa cabeça avantajada, nascemos um pouco "antes" em relação aos outros bebês mamíferos que  possuem habilidades e competências, as quais só vamos adquirir pertos dos dois anos de idade. Assim, nossos bebês são totalmente dependentes e exigem um cuidado e atenção especial. É necessário, então, a ajuda de outras pessoas para que esse bebê nasça e seja amparado no momento do nascimento. É também provavelmente por isso que se constituiu a família, para dar conta desse bebê extremamente frágil que necessita de cuidados  especiais como afirma Dr. Ricardo Herbert Jones, médico obstetra humanista.


Como colocam as médicas Karen R. Rosenberg e Wenda R. Trevathan, "muitas das nossas ancestrais podiam, assim como mulheres de hoje podem, dar à luz - e algumas dão - sozinhas. [...] Mas antropólogos que estudaram partos em culturas do mundo inteiro relatam que raramente o parto não é ajudado. Hoje em dia virtualmente todas as mulheres de todas as sociedades procuram assistência no parto. Mesmo entre os !Kung do Deserto do Kalahari, no sul da África, conhecidos por terem no parto solitário um ideal cultural, as mulheres geralmente não conseguem dar à luz sozinhas até terem tido vários bebês, em cujos partos mães, irmãs ou outras mulheres estiveram presentes. Assim, embora exceções existam, o parto assistido está perto de ser um costume universal nas culturas humanas.
 Assim, o trabalho da doula hoje, parece ainda mais essencial, visto que em nossa cultura ocidental, especialmente, criou-se um medo em torno do parto que dificulta ainda mais o processo de nascimento. A doula, então, é alguém que estará prensente no momento do parto para auxiliar a mãe, no sentido de ouvir suas necessidades e encorajá-la a seguir seus próprios desejos e necessidades corporais naquele momento.