Divulgo aqui o relato de Luísa, uma mãe que quer partilhar sua história de amamentação com todas as mulheres desejosas de proporcionar essa forma de nutrição a seus filhos e que passam por dificuldades. É um relato muito sensível e verdadeiro, o qual serve de guia e de estimulo para todas e todos nós, mães e pais.
Abaixo o relato, e ao fim dele, o contato de Luísa, caso alguém queira falar com ela pessoalmente.
"Sempre achei o ato de amamentar o que existe de mais belo no mundo. Isto deveria ser algo totalmente instintivo, que flui naturalmente como acontece com os animais, mas nos seres humanos é bem mais difícil.
Apesar de já algum tempo trabalhar em hospitais, ter participado de treinamentos, seminários e curso de Aleitamento Materno, estando bem informada de todas as teorias possíveis, cheguei a pensar em desistir e passei a entender todas as mulheres da face da terra que não amamentaram seus bebês.
Após o parto coloquei minha filha no peito para mamar, aparentemente ela pegou bem e mamava bastante, tinha confirmação pela troca de fraldas. Por volta do 5º dia reparei que os bicos dos seios estavam com as pontas tortas, e em um deles parecia ter criado uma pequena nata em cima, depois criou no outro seio também. Eram as famosas fissuras que iniciaram com uma pequena casca de ferida que secava com o leite e aumentava a cada mamada. Quando a primeira caiu iniciou-se o grande pesadelo. Pela teoria é só ordenhar e dar o leite ao bebê, mas no início os peitos estão extremamente sensíveis e doloridos, até água do chuveiro dói.
Logo que a mamada iniciava, doía muito (pois a pele do mamilo ainda não está acostumada), mas depois sua boquinha quente amortecia um pouco a dor. Enquanto ela mamava num peito, a casca do outro se formava e na troca do peito, toda vez que ela iniciava a mamada, sangrava. Era horrível ver sua boquinha suja de sangue, junto, eu sentia muita dor. Quando ela não estava mamando, a dor no peito era uma dor de queimadura.
Eu chorava muito, o tempo todo, apesar do grande sofrimento, eu sentia muito, muito amor e vontade de alimentar minha filha. Quando ela acordava e chorava de fome, eu chorava de medo de sentir dor novamente. Com todo este pânico e estresse, dia e noite, acho que fiquei em depressão e não conseguia esgotar mais do que 15 ml. Pedi ajuda a várias pessoas. Disseram que a pega estava incorreta. Mas como fazer ficar melhor? Ela abocanhava todo o mamilo, isto eu tinha certeza, mas não fazia muito a boquinha de peixinho, até porque as cascas das feridas eram grandes e sua boca pequena. Eu esperava ela abrir bem a boca chorando para enfiar todo o peito possível. Era o máximo que ela conseguia abocanhar. Tentei usar aqueles bicos de silicone, mas também sangrou com a sucção e não fixou no peito. As conchas são boas para os bicos dos peitos não encostarem na roupa, e o leite que cai dentro delas pode ser usado. Além disso, passava óleo TCM e fazia banhos de luz, isto aliviava a sensibilidade.
Chegou um dia em que não agüentei mais tanto sofrimento e resolvi ficar um dia inteiro sem dar um dos peitos, para cicatrizar melhor. Ela mamava em somente um e o outro eu esgotava. Como era pouco o que eu esgotava, misturei com água de arroz e dei de colherinha. Foi aí que piorei as coisas. Quando voltei a oferecer o peito ela “desaprendeu” a mamar, fazia biquinho com a boca para chupar como aprendeu com a colherinha. Eu a fazia abocanhar todo o peito, mas, em três ou quatro sugadas, escorregava para o bico do seio. Eu tirava e tentava novamente, e assim, ficava o tempo todo, tentando fazer ela mamar corretamente. Havia momentos em que ela fazia movimentos com a cabeça, como se estivesse mamando e logo após dormia por horas, então eu pensava que ela havia mamado bem.
Perdi a noção de tempo. Minha vida era somente isto. Mal dava para comer ou ir ao banheiro. Acho que, entre uma sexta-feira e a quarta-feira seguinte, ela deve ter perdido uns 700 gramas. O momento mais triste e angustiante foi, ao dar banho, ver nosso bebê magro demais. Era inverno, ela estava sempre cheia de roupas e dávamos banho 2 ou 3 vezes por semana. Eu e meu esposo choramos muito, e naquela noite começamos a dar NAN no copinho, sob orientação. No dia seguinte iniciamos NAN de 3/3 horas e quase não havia mais espaço para as mamadas. Sentia um vazio, uma angústia e não aceitava aquela situação, me sentia com isto uma pessoa incapaz, mas a saúde de nossa filha estava em jogo. Lembrei de todas as vezes que condenei em pensamento as mães que não amamentavam seus bebês no peito.
Naquela semana a pesamos dia sim, dia não, no posto de saúde, com a enfermeira que nos acompanha desde o pré-natal. A cada pesagem ela ganhou em média 140g. Até ela ganhar o peso ideal, talvez tenham se passado duas semanas. Quando ela alcançou o peso do nascimento mais o peso que deveria ter ganhado, de acordo com o que cresceu em altura, comecei a espaçar os horários do NAN para 4/4hs e intensifiquei as mamadas no peito. Ela começou a sugar mais forte e quando estava mamando bem, até pulava horário do NAN. Algumas vezes ela mesma não aceitava NAN, preferia o peito. Alguns dias depois ela tomava NAN somente uma vez à noite e houve um dia que meus peitos estavam cheios neste horário do NAN, então, apartir deste dia, ela já estava com quase dois meses, reiniciei amamentação exclusiva. Na semana seguinte, ela ganhou pouco peso, cerca de 20g por dia (a média que um bebê deve ganhar é 30g/dia). Realmente havia momentos do dia que não sentia os peitos cheios, me sentia muito insegura, mas me concentrei em acreditar que era possível, era só ter paciência e muita calma, e esperar meu corpo reagir. Então, uma semana após, ela ganhou nada menos que 500g, em média 81g/dia. VITÓRIA! Conseguimos! Ela ganhou mais peso só mamando no peito do que quando fizemos dieta de engorda com NAN. Eu e meu esposo estamos muito felizes e estou realizando o meu grande sonho de aleitamento exclusivo. Agora ela está super bem, é uma bebê querida, tranqüila, que tem um lindo sorriso e aprende tudo rápido a cada dia.
Sinto-me muito grata às duas enfermeiras e a nutricionista (
http://amamenta.com) que me apoiaram e ajudaram muito, especialmente à enfermeira do posto de saúde que me encorajou e me lembrou sempre que eu estava a caminho, próximo de realizar meu sonho e não podia desistir. Ah! E claro, já havia esquecido de agradecer eternamente meu esposo por ter cuidado de mim quando mais precisei e de ser desde o início um excelente pai.
Gostaria muito de com este relato ajudar a tantas mães que passam por este problema, e que pelo visto, a maioria acaba desistindo, principalmente por falta de conhecimento e apoio da família. Pretendo no futuro trabalhar ajudando muitas mães e bebês neste processo delicado de início da vida, pois acho que é o mais importante para termos um futuro melhor".
Luísa Batista Diederichs
Técnica de Nutrição CRN2 – 020T
Acadêmica de Nutrição da Unisinos
celular: 93342514