sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O que aprendemos sobre o parto.



Quando descobri o parto humanizado, foi como um reencontro com as minhas crenças. Conhecer aquelas mulheres que puderam fazer escolhas diferentes das que temos comumente no Brasil para o nascimento de seus bebês tocaram meu coração e veio ao encontro do entendimento que já existia dentro de mim: parto é algo natural, do feminino e uma experiência simplesmente única, maravilhosa e empoderadora. Um aprendizado muito diferente do que temos hoje no mundo e, especialmente, no Brasil.
Aprendemos, desde pequena, que parto é algo difícil, complicado, doloroso, demorado e muitas vezes perigoso. Tanto que, quando queremos dizer que algo foi complicado, dizemos: "foi um parto!"  Desse modo, criamos medos e mitos. E muitas mulheres, inclusive, não podem ver a cena de uma mulher parir, algo que deveria ser natural, que faz parte de ser mulher, do feminino.
No colégio, quando minhas amigas e eu falávamos sobre esse assunto, todas queriam fazer cesárea, tinham medo da dor, achavam muito estranho parir e não entendiam  como podia sair um bebê daquele tamanho por um buraco tão pequeno. E eu ficava pensando, mas por que não? Afinal, não temos capacidade para isso?
Somos fêmeas, e como todas as fêmeas mamíferas temos a capacidade de gerar e trazer a nossa espécie ao mundo. Está em nossas mãos a responsabilidade de perpetuar a espécie, de cuidar dela durante nove meses e trazê-la ao mundo. Obviamente, naquela época de pré-adolescente não tinha toda essa consciência, mas entendia que parto deveria ser normal e cesárea uma ocorrência emergencial,  um caso especial. Mal sabia eu, naqueles tempos, que o paradigma já era outro, e eu estaria sendo bastante  diferente com esses meus pensamentos. Porque a partir do avanço tecnológico e da medicina, fomos aprendendo que a mulher não tem condições de parir seus bebês e que precisa de alguém que o faça, dizendo inclusive qual a melhor posição, o que ela deve fazer naquelas horas. Surge, então, a figura do médico obstetra, que foi tomando conta de um cenário essencialmente feminino e tornando-se a personagem principal.
A maioria das minhas colegas tinha a mesma história de nascimento que eu: nasceu de cesariana. E naquela época não conseguia perceber as coincidências contidas naquelas histórias: pouca dilatação, soro, medicalização, mulheres sem familiares por perto, desassistidas, diversas intervenções, alienadas do saber de seu corpo, angustiadas com todas aquelas alterações corporais e emocionais que os hormônios produzem, com medo do que poderia acontecer e sua única alternativa era confiar naquele que ia "fazer" seu parto e que  parecia ser o único a saber o que deveria ser feito. Então, depois de 12 horas de trabalho de parto "sem sucesso"... Cesárea. As histórias se repetiam, e produzimos um novo paradigma: mulheres são incapazes de ter seus bebês sem intervenções. Assim, práticas para casos de emergência tornaram-se práticas de rotina. E, nos tornamos mulheres desempoderadas e alienadas do nosso saber corporal, transferimos todo o conhecimento de nosso corpo para um saber médico que, então, tornou-se o responsável pela perpetuação da espécie, o protagonista da história. Esse pensamento faz parte de uma cultura extremamente controladora, descrente, tecnocrática, patriarcal e fragmentada; que vê o homem separado da natureza, e esta apenas como um recurso para seu bem-estar. Assim, desde o momento do nascimento experenciamos uma vida desconectada. E isso se reflete ao longo de nosso caminho pela Terra.
Portanto, mudar a forma como o ser humano nasce, é mudar nosso paradigma, é mudar esse aprendizado, é acabar com o medo. E é procurar uma forma mais humana de entrar e estar no mundo. Por que não podemos ter no momento do parto um aconchego, um carinho, um acolhimento? É disso essencialmente que um bebê, uma mãe e um pai precisam.

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